- Eu acho que
assim está melhor – falou André ao ajeitar a mecha de cabelo da modelo – é só
você colocar o rosto um pouco mais para a esquerda que o click ficará perfeito!
Era uma tarde qualquer e nevava
bastante. O estúdio de André era grande, fazia parte de um dos quartos do seu
apartamento. As janelas eram enormes, cobrindo toda a extensão da parede. A
rua, a neve caindo, as luzes translúcidas por conta do inverno, tudo parecia
maior, mais bonito, mais mágico.
Mágico era o momento. André
deliciava-se com a profissão de fotógrafo. André havia lutado muito para chegar onde estava, começou como ajudante de um fotógrafo e foi aprendendo a manusear
a câmera. No início era complicado aprender a ver as luzes. A luz é algo
encantador, mas, manuseá-la é complicado. André preferia fotos coloridas, com
muita vida, cores quentes, porém, odiava a tal da pós-produção. Fazia de tudo para
as fotos saíssem perfeitas no momento do click e, pronto!
O pensamento voava longe, ele
manuseava a máquina, controlava o ISO, a velocidade do obturador, a abertura do
diafragma, equilíbrio do branco. A iluminação em cima da modelo já estava
perfeita. André passeava pelo seu trabalho, até a modelo interromper:
- André, e aí? Não ouvi você
tirando nenhuma foto desde que ajeitou meu cabelo, isso faz quase dez minutos! –
Anna falou um tanto irritada, permitindo que André percebesse o tom de sua voz,
um descuido – Sabe, tenho coisas para fazer ainda hoje, e você não me pagou
adiantado.
- Anna, pelo seu tom, você está
de TPM, a culpa não é minha, e o seu dinheiro está guardado – André desarmou
Anna, revelou sua TPM e falou do pagamento, agora a modelo ia esperar os clicks
e André faria seu trabalho em paz.
Anna era jovem, tinha dezenove
anos e pretendia subir na carreira, precisava ajudar sua família, moravam no
subúrbio. Desde pequena era muito bonita e chamava a atenção por onde passava.
Logo aos quinze anos foi convidada para participar de algumas propagandas de
produtos pequenos. Perfumes, loções para banho, hidratantes. Fez fotos no
parque, praças, teatros, e no chuveiro. Nunca quis posar nua. Aos dezoito anos Anna
montou uma teoria: o subúrbio era o lugar de mulheres bonitas, majestosas,
lindas e com sex appeal. Aos dezenove, sabia que tinha que deslanchar como
modelo, e soube do trabalho de André. Ele era um fotógrafo renomado, tinha
batalhado muito para chegar onde estava, e tinha apenas trinta anos.
Era final do ano e a neve caía
intensa. Logo chegaria o natal e Anna teria que gastar muito ajudando na festa
da família. Ela inda não havia conseguido juntar o dinheiro que queria para
viajar para a França, queria poder viajar um pouco, visitar alguns países e
conhecer pessoas diferentes. Olhou para André, depois de algumas fotos e
perguntou:
- Quando você pretende terminar
isso? O frio está aumentando, e eu estou sem roupa! – Isso mesmo, Anna decidiu
confiar no projeto de André, fotos de nudez. Não eram fotos normais. André não
estava preocupado com “as partes”, muito menos uma modelo contorcionista –
Sabe, desculpa por reclamar tanto, você sabe é a TPM. Queria dizer que gostei
da sua ideia de trabalhar com nudez e perspectiva de espelhos e uso de cristais
para criar arco-íris verdadeiros, sem precisar de uso de computadores. Até
então nunca tinha posado nua.

- Então o cristal por onde passa
esse simples lampejo é uma metáfora para o costume adquirido? A partir daí as
coisas podem se soltar e criar cores, múltiplas cores a depender do dia, da
hora, do momento, do sentimento – Anna estava com o rosto enrugado, estava
pensando, percebeu que André aproveitou o momento para fazer alguns clicks –
Ei! Eu fico feia quando estou pensando!
- (risos) não fica não, seu rosto
tem traços que lembra o vermelho, um vermelho no tom certo, aquele que desperta
a paixão, mas, sem ser forte e nem chegado à rosa. E seus olhos azuis, grandes
olhos intensamente azuis, dão o contraste – André falou sem pensar, não queria
aparentar um sedutor qualquer, o elogio escapou de sua boca.
- Obrigado – Anna respondeu embaraçada
e envergonhada, não estava acostumada com elogios, André continuou com os
clicks – Agora devo ter ficado mais vermelha e você aproveitou.
Os dois sorriram bastante e
conversaram. Quanto mais a conversa fluía, mais André via Anna como um belo
arco-íris, dos que merecem ser guardados. As fotos estavam fazendo seu papel,
registrando a beleza. Nas fotos Anna aparecia com suas expressões e na medida
em que André mudava de posição para fazer os clicks a luz do arco-íris
projetada pelo cristal modificava as tonalidade. As fotos estavam ficando
perfeitas.
André decidiu dar alguns zooms
nos seios de Anna, eles eram médios em formato de gota, mamilos rosados e com a
pele clara. André gostou do tom rosado, escolheu uma posição em que o arco-íris
do cristal permitisse um tom que destacasse os mamilos. Anna era clara, não
muito branca, nem puxando para um tom amarelado, era clara. André soube
aproveitar muito bem o tom de pele da Anna, quando tirou algumas fotos com a
janela e todo o nevoeiro por trás de Anna.
A conversa estava ficando mais
agradável com o tempo. O ensaio terminou e Anna foi se vestir e percebeu que
suas roupas não dariam conta daquele frio lá fora, mas ela tinha que sair o
quanto antes. André ofereceu um café quente. Era sua especialidade, ele sabia a
temperatura certa da água, a quantidade certa de pó de café, o pó mais saboroso.
Enfim, o café saiu cremoso e saboroso como sempre. Anna esquentou-se um pouco
mais com o café, eles conversaram mais um pouco e André decidiu mostrar as
fotos que tirou de Anna.
Era estranho, pois Anna nunca
tinha se visto daquele jeito, parecia que sua beleza tinha se multiplicado. Suas
pernas estavam com tons que ela nunca tinha visto, suas curvas eram
avermelhadas e sensuais. Seu rosto estava com contrastes belíssimos, e seus
olhos realmente faziam a diferença. Até que chegou ao crime, seus seios estavam
em destaque, ficou extremamente envergonhada, pois, André estava ao seu lado. Olhou
para ele, mas os olhos de André estavam vidrados na fotografia e parecia
apreciar atentamente os detalhes. Ela já desconfiava, era aquele tom rosado,
era um tom diferente, sedutor, que de tão suave era capaz de inflamar desejos
quentes. A cozinha do estúdio parecia multicolorida, André e Anna estavam
esbanjando sensações.
- Seu olhar é impressionante! –
disse Anna ouvindo André responder: seu corpo é multicolorido.
Anna não voltou para casa, a neve
não iria deixar de qualquer jeito. Os dois, naquele estúdio, alí no chão mesmo,
transformaram em cores o que através da janela era o branco da neve.
(Y.S.S)
(Y.S.S)